Carlos Newton
Muito tem se discutido neste blog sobre o governo João Goulart e o golpe
militar de 31 de março. Quem não viveu aquela época não tem uma
real noção do que aconteceu. Por isso, vale a pena publicar a
pesquisa da jornalista Cristiane Costa, postada originalmente no blog
BrHistória.
O levantamento mostra que a imprensa, praticamente sem exceção,
apoiou a derrubada do presidente João Goulart, em função dos desatinos
cometidos ao propor uma reforma agrária demagógica, que atingiria todas
as grandes fazendas produtivas, num país onde não faltam extensas áreas
improdutivas a serem cultivadas.
Além disso, Jango queria derrubar a lei da
oferta e procura, ao tabelar, também demagogicamente, todos os aluguéis
nas áreas urbanas. Sem falar na quebra da hierarquia nas Forças Armadas.
Estas foram as principais razões da queda, que teve expressivo apoio da
classe média, como os jornais registraram. É só conferir:
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“O Brasil já sofreu demasiado com o governo atual. Agora, basta!”
– (Do editorial “BASTA”, 31 de março de
1964 – Correio da Manhã – Rio de Janeiro)
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“Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!” – (Do
editorial “FORA!”, 1° de abril de 1964 – Correio da Manhã)
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“Desde ontem se
instalou no País a verdadeira legalidade … Legalidade que o caudilho não
quis preservar, violando-a no que de mais fundamental ela tem: a
disciplina e a hierarquia militares. A l egalidade está conosco e não com
o caudilho aliado dos comunistas” - (Editorial do Jornal do Brasil – Rio de
Janeiro – 1º de Abril de 1964)
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“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do Presidente.
Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o Sr.
João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida,
desordem social e corrupção generalizada.” – (Jornal do Brasil,
edição de 1º de abril de 1964.)
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“Minas
desta vez está conosco”(…) “Dentro de poucas horas, essas forças não
serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros
que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais
se vergará às suas imposições.” – (Estado de S. Paulo –
1º de abril de 1964)
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“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade. Ovacionados o governador do
estado e chefes militares. O ponto culminante das comemorações que
ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória do movimento pela paz e
pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular defronte ao
Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do governo
mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para
festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (…), formando uma das
maiores massas humanas já vistas na cidade” - (O Estado de Minas –
Belo Horizonte – 2 de abril de 1964)
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“A população de Copacabana
saiu às ruas, em verdadeiro carnaval, saudando as t ropas do Exército.
Chuvas de papéis picados caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo
dava vazão, nas ruas, ao seu contentamento” – (O Dia – Rio de Janeiro – 2 de Abril de 1964)
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“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o poder
como imperativo de legítima vontade
popular o Sr João Belchior Marques Goulart, infame líder dos
comuno-carreiristas-negocistas-sindicalistas” – (Tribuna da Imprensa – Rio de Janeiro – 2 de Abril
de 1964)
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“Fugiu
Goulart e a democracia está sendo restaurada”… “atendendo aos anseios
nacionais de paz, tranqüilidade e progresso… as Forças Armadas chamaram a
si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos,
livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que ha
viam envolvido o Executivo Federal”. – (O Globo, 2 de abril de 1964)
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“Lacerda anuncia volta do país à democracia.” – (Correio da Manhã, 2 de abril de 1964)
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“A paz
alcançada. A vitória da causa democrática abre o País a perspectiva de
trabalhar em paz e de vencer as graves dificuldades atuais. Não se pode,
evidentemente, aceitar que essa perspectiva seja toldada, que os ânimos
sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças Armadas, assim o quer o
povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil” – (Editorial de O Povo – Fortaleza – 3 de
Abril de 1964)
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“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam
unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações políticas
simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é de
essencial: a democracia, a lei e a ordem.
Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus
chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a
hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável,
que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e
tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a
garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem.
Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das
instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada …” - (O Glob o –
Rio de Janeiro – 4 de Abril de 1964)
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“Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos
índices cívicos”(…) “Os militares não deverão ensarilhar suas armas antes
que emudeçam as vozes da
corrupção e da traição à pátria.” – (Estado de Minas, 5
de abril de 1964)
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“A Revolução democrática antecedeu em um mês a revolução
comunista”. – (O Globo, 5 de abril de 1964)
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“Pontes de Miranda diz que
Forças Armadas violaram a Constituição para poder salvá-la!” -
(Jornal do Brasil, 6 de abril de
1964)
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“Congresso concorda em aprovar Ato Institucional�� �. – (Jornal do Brasil, 9
de abril de 1964)
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“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às solenidades que
marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na Presidência da
República …O ato de posse do presidente Castelo Branco revestiu-se do
mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve” – (Correio Braziliense
– Brasília – 16 de Abril de 1964)
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“Vibrante manifestação sem precedentes na
história de Santa Maria para homenagear as Forças Armadas. Cinquenta
mil pessoas na Marcha Cívica do Agradecimento” - (A Razão –
Santa Maria – RS – 17 de Abril de 1964)
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Nota de Redação – Seis dias depois
da derrubada de Goulart (ver nota em azul acima), a Tribuna da Imprensa de Helio Fernandes
foi o primeiro jornal a se posicionar contra o regime militar. Depois, o Correio da Manhã de Paulo
Bittencourt também foi para a oposição. Mas todos os outros destacados
órgãos da chamada grande imprensa seguiram apoiando indefinidamente a
ditadura, como fica demonstrado nesses dois editoriais que seguem abaixo,
também pesquisados pela jornalista Cristiane Costa:
“Vive o País, há nove anos, um desses períodos férteis em programas e
inspirações, graças à transposição do desejo para a vontade de crescer e
afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução brasileira, menos que ela
não moveu o País, com o apoio de todas as classes representativas, numa
direção que já a destaca entre as nações com parcela maior de
responsabilidades”. – (Editorial do Jornal do Brasil – R io de
Janeiro – 31 de Março de 1973)
“Participamos da Revolução de 1964 identificados com os anseios
nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela
radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção
generalizada”. – (Editorial assinado
por Roberto Marinho, publicado no jornal” O Globo”, 7 de outubro de 1984,
sob o título “Julgamento da Revolução”)
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