terça-feira, 29 de maio de 2012

Tiriós

Exército explora área na fronteira onde 'nunca havia pisado antes'

Durante 13 dias, soldados mapearam trecho perto

 de Suriname e Guiana.Tropa descobriu garimpos, pistas clandestinas,

 tráfico de animais e trilhas.

Tahiane StocheroDo G1, em São Paulo



rio anamu amazonia (Foto: Força 3/Divulgação)

Região do rio Anamu, na fronteira do Pará com Suriname e Guiana, foi vasculhada 
pelos militares
(Foto: Força 3/Divulgação)
Militares brasileiros realizaram pela primeira vez o reconhecimento 
de uma área na fronteira do Brasil com o Suriname e a Guiana 
considerada até então desconhecida pelos órgãos públicos.

Segundo o General Eduardo Villas Bôas, comandante militar 

da Amazônia, o levantamento ocorreu devido ao "grande 
desconhecimento" da região ao norte do Rio Trombetas, no Pará, 
e na tríplice fronteira.

“É uma área de difícil acesso, com rios cheios de cachoeiras, 

não navegáveis, grande vazio populacional e mata fechada. 
 Considerávamos uma região de sombra, que nunca havíamos 
pisado antes, pois não tem como chegar lá por estradas, 
embarcações ou aeronaves", disse o general ao G1.
Mapa (Foto: Editoria de Arte/G1)
"Por isso, determinei que uma tropa especializada fosse 

esmiuçar a mata e coletar informações”, acrescentou.
Durante a operação, realizada neste mês, 16 integrantes 

da Força 3 - unidade formada por Comandos e Forças Especiais
 (a tropa de elite do Exército) e baseada em Manaus (AM) - 
ficaram 13 dias na floresta amazônica.

A missão era mapear tribos isoladas, garimpos ilegais, pistas 

clandestinas e outros crimes transfronteiriços, de acordo com 
o comandante da Força 3, tenente-coronel André Lúcio Ricardo Couto.

A ação começou a partir do pelotão de fronteira de Tiriós, localizado 

a 12 km da divisa do Pará com o Suriname. A partir dali, os soldados 
seguiram de helicóptero até dois pontos fictícios próximos aos 
rios Curiau e Cafuni, que ingressam no Brasil a partir do Suriname e 
da Guiana e, no Pará, formam o Rio Trombetas.

As coordenadas exatas não são divulgadas por questões estratégicas, 

pois nos locais o Exército pretende implantar futuramente novos 
pelotões de fronteira.

No total, a área percorrida tem 400 quilômetros de extensão na 

fronteira do Pará com Suriname e Guiana, segundo o coronel 
André Lúcio. “Em localidades que imagens de satélite e mapas 
apontavam como sendo habitadas por tribos, não encontramos 
nada. Também descobrimos pequenas pistas de pouso próximas
 a terras indígenas, que podem ser usadas por garimpeiros”, disse.
força 3 amazÕnia (Foto: Força 3/Divulgação)
Militares brasileiros chegam a comunidades indígenas e localizam trilhas
 clandestinas na fronteira com
Guiana e Suriname
(Foto: Força 3/Divulgação)
Ao localizar pequenos grupos de indígenas, os militares desciam de rapel 
na mata e passavam alguns dias na localidade coletando dados.

Foram descobertos pontos de tráfico ilícito de dois pássaros silvestres - curió e bicudo -

 e duas trilhas clandestinas que levam brasileiros para o trabalho ilegal em minas do
 lado surinamês, uma delas cruzando terras indígenas.

Duas aldeias, do outro lado da fronteira, são a porta de entrada para os garimpeiros – 

uma maior, a cinco dias da linha que separa os dois países, e outra menor, a apenas 
seis horas de caminhada do Brasil.

força 3 amazÕnia (Foto: Força 3/Divulgação)
Os dados coletados pela tropa serão compilados em 
um relatório que será repassado para diversos órgãos 
públicos, como Funai (Fundação nacional do Índio) e Ibama
 (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
Renováveis), que têm interesse em saber o que ocorre na área,
informou o General Villas Bôas.

O envio dos militares da Força 3 à área inóspita ocorreu 

durante a Operação Ágata 4, que reuniu mais de 8,5 mil militares 
para reprimir crimes nas fronteiras de Amazonas, Roraima, 
Pará e Amapá.
Na região de Tiriós, entre Pará e o Suriname, militares realizaram operações em terra e no 
ar em busca de terras indígenas e crimes na fronteira (Foto: Força 3/Divulgação)